Amizades Fast-Food

Eu idealizei uma amizade e passei muito tempo tentando me convencer de que ela poderia existir, cheguei mesmo a achar que a havia encontrado.
O problema com amizades ideais (assim como com qualquer tipo de relacionamento idealizado), é que elas não existem fora do pensamento. As pessoas são diferentes e, portanto, seus ideais – de vida, de amor, de trabalho, de amizade – são diferentes. E são mutáveis também.
Antes eu achava que a amizade ideal era aquela em que as duas partes paravam pra se ouvir e dar atenção uma a outra. Eu sempre ouvi sem ser ouvida, então isso contava muito. Depois acabei perdendo a paciência pra ouvir, comecei a dar um grande (e talvez excessivo) valor à reciprocidade e não queria mais passar horas dando atenção a quem não dava atenção pra mim. Aí percebi o quão carente eu era. Eu falava sem nem parar pra respirar se percebia que alguém estava ouvindo. Cheguei até a ser estúpida ao interromper qualquer comentário que surgia. Era minha vez de falar e eu não queria abrir mão disso.
Depois comecei a achar que a amizade “de verdade” estava em dividir momentos. Portanto era preciso estar presente, só que logo percebi que se podia estar presente só de corpo, e que isso não representava nada. Hoje talvez eu esteja mais próxima da minha amiga que se mudou pra Austrália, do que do amigo que mora a poucas quadras de casa.
Acho que foi aí que eu comecei a ver que o importante era o sentimento nutrido. Não posso estar presente de corpo e alma na vida da minha amiga que está fisicamente tão longe. Não podemos conversar com tanta frequência e é difícil perceber por texto o quanto ela está absorvendo do que eu digo, o quanto ela está “escutando”. Mas eu sei que ela está lá por mim. Sei que se importa, sei que pararia qualquer coisa pra me ouvir. Então é isso o que realmente faz diferença, não? É isso que eu quero pra mim em todas as minhas amizades!
Então voltamos pro começo. Se as pessoas não são iguais, como definir um “padrão de amizade” e esperar encontrar pessoas que se encaixem nele?
Hoje eu vejo a minha amizade contestada e colocada à prova o tempo todo. A certeza de se importar que pra mim deveria ser o alicerce de qualquer amizade, só existe no meu ideal. Eu me importo, me preocupo, mas se em algum momento surge um “mal-entendido”, sou obrigada a reafirmar e provar minha amizade antes de qualquer outra coisa. Como se amigos não pudessem discordar em nada sob pena de não serem considerados realmente amigos.
Será que acreditar nas pessoas hoje em dia é mera ilusão? Será que até os sentimentos entraram na “Era do Fast-Food”, vem e vão como o lanche do dia? Eu acredito demais ou os outros acreditam de menos? Me tornei exigente demais ou sonhadora demais? Tudo o que eu penso é que é melhor não se envolver mais, melhor não se apegar mais, melhor não esperar mais nada dos outros.
E assim a humanidade vai se afastando. Assim o ser humano vai se afastando da humanidade.
E fim.

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